Poeta e diplomata, João Cabral de Melo Neto nasceu no Recife, a 09 de janeiro de 1920, de uma família proprietária de engenho de açúcar. Pelo lado paterno, é primo de Manuel Bandeira e Mauro Mota. Pelo lado materno, é primo de Gilberto Freyre e do historiador José Antônio Gonçalves de Melo.

Passou a infância entre Recife e os engenhos Poço do Aleixo, no município de São Lourenço da Mata; Pacoval e Dois Irmãos, município de Moreno.

Considerado um dos maiores poetas brasileiros contemporâneos, estudou o curso colegial no Recife com os Irmãos Maristas. Primeiro, no Colégio Ponte d'Uchoa e depois no colégio situado à Avenida Conde da Boa Vista. Não freqüentou nenhum curso superior e dizia considerar equivalente a uma faculdade tudo o que aprendeu com os amigos intelectuais como o poeta e engenheiro pernambucano Joaquim Cardozo e outros.

Enquanto viveu no Recife, trabalhou numa companhia de seguros; na Associação Comercial de Pernambuco e também no Departamento de Estatística do Estado.

Visitou o Rio de Janeiro pela primeira vez durante o carnaval de 1940, retornando em seguida ao Recife. Em novembro de 1942, muda-se definitivamente para o Rio, onde, no ano seguinte, presta concurso e começa trabalhar como funcionário público, ocupando o cargo de assistente de seleção do DASP. Começou a escrever poesias aos 17 anos de idade e estreou na literatura com a publicação do livro "Pedra do Sono", em 1942. Em 1945, publica "O Engenheiro".

Naquele mesmo ano, é aprovado em concurso para carreira diplomática e, em 1947, deixa o Brasil, iniciando uma vida profissional que só largaria ao se aposentar. Como diplomata, o primeiro cargo que João Cabral de Melo Neto ocupou foi o de vice-cônsul do Brasil em Barcelona, Espanha, onde permaneceu de 1947 a 1950 e onde depois voltaria a trabalhar mais outras seis vezes. Da Espanha, ele seguiu para Londres, onde serviu de 1950 a meados de 1952.

Trabalhou, ainda, na França e Estados Unidos. Promovido a embaixador em 1976, foi nosso representante no Senegal até 1979, quando passou a representar o Brasil no Equador, onde ficou até 1981, seguindo depois para Honduras. Aposentou-se do Itamaraty em 1987 e voltou a morar em seu apartamento no Rio de Janeiro.

Além dos vários países onde serviu como diplomata, viveu também em Brasília, durante o Governo Jânio Quadros, trabalhando como chefe de gabinete do Ministro da Agricultura.

Casou-se no Rio de Janeiro, em 1946, com Stella Maria Barbosa de Oliveira, com quem teve cinco filhos, enviuvando em 1986. Em 1968, foi eleito por unanimidade para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira que pertenceu a Assis Chateaubriand. Seu poema mais popular é "Morte e Vida Severina" (auto de natal pernambucano), publicado em 1965 e, depois, adaptado para o teatro e televisão, com música do compositor Chico Buarque de Holanda.

Quando adolescente, João Cabral foi atleta, atuando como jogador de futebol pelo América do Recife e pelo Santa Cruz e chegou a ser campeão estadual (juvenil) por este último. A partir de 1992, passa a sofrer de cegueira progressiva e não pode mais ler.

Em 1994, lança o livro "Obras Completas". Tímido e assumidamente preguiçoso, ele assim se definia: "Sou uma pessoa que se considera preguiçosa por natureza. Sou um sujeito tímido, que morre de vergonha quando é reconhecido, e que também não gosta de ser chamado de poeta, como se fosse uma denominação profissional. Detesto quem me escreve cartas me chamando de Poeta João Cabral".

Quanto à temática, a crítica divide a obra de João Cabral de Melo Neto (e ele concordava) em duas fases: a primeira, sem preocupação com o social; a segunda, quando esse interesse começa a surgir. Nessa segunda fase, que se inicia em 1950, está presente o Nordeste dramático das secas, do latifúndio, das migrações do sertanejo para as zonas da Mata e Litoral, além do Rio Capibaribe.

Morreu a 09 de outubro de 1999, já cego, em seu apartamento no Rio de Janeiro, de insuficiência respiratória, quando rezava ao lado de sua segunda mulher, Marly de Oliveira.

Entre suas principais obras, estão: "Psicologia da Composição" (1947); "O Cão sem Plumas" (1950); "O Rio" 91954); "Morte e Vida Severina" (1954); "Quaderna" (1959); "Dois Parlamentos" (1960); "Educação pela Pedra" (1965).